A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL
O Brasil se diferencia de outros países pela capacidade de aceitar pessoas provenientes de outras nações, que por ventura venham trabalhar, estudar e até mesmo se radicar em solo brasileiro, e, em conseqüência, juntamente com esta migração também são trazidos os costumes de alimentação, vestimentas, educação, tradição e cultura, sendo que em muitos casos, há a dificuldade de se relacionar com pessoas de raças as quais normalmente estavam acostumados a tratar.
Assim, o Brasil fica em evidencia por talvez ser o mais eclético no que diz respeito a mistura de raças dos povos em todos os continentes, pois é bem provável a existência de representantes de quase todos os países em território nacional, se destacando o povo africano, alemão, italiano, japonês, judeu, árabe, espanhol, argentino, etc, o que culmina no estabelecimento de relações de amizade, ódio, paixão, amor, e, conseqüentemente, no estabelecimento do vínculo familiar que advém da união marital e mistura de raças.
Com o passar do tempo como poderia ser afirmado à verdadeira origem de determinada pessoa após a união e mistura com outros povos, como por exemplo, o negro com italiano, japonês, alemão, bem como, a mistura destes povos entre eles, mas em solo brasileiro?
Nesta situação seria improvável afirmar a verdadeira origem pelo simples fato de que em conseqüência do advento da globalização, cada vez é mais comum este entrelaçamento, contudo, algumas áreas da sociedade sentem dificuldade de conviver com este fato, pois infelizmente ainda se perpetuam o “espírito” de intolerância e de racismo em várias partes do poder público ou privado, principalmente, nas empresas, que dificilmente apresentam nos cargos de chefia e liderança em destaque o negro, incorporando os resquícios de ranços do passado, em que era inadmissível na sua maioria absoluta o negro assumir qualquer papel de relevância social, profissional ou cultural, pois seria a demonstração de fraqueza social esta aceitação.
Como provar esta afirmação, será que há vestígios de que isto realmente tenha ocorrido em um passado recente?
Mediante a este questionamento, cabe relembrar alguns detalhes em que a geração que hoje conta com mais ou menos 40 a 50 anos, pois sentiram na pele, desde a infância em meados dos anos 60 e 70 os reflexos da discriminação imposta por todos os lados de convivência familiar ou social, salientando-se alguns exemplos nos tópicos infracitados:
a) quando o filho estava brincado, caia e contraia um pequeno machucado, a mãe de família negra logo dizia: “meu filho, vá no bar ali da esquina e peça um “bandi aid”, da cor da pele meu amor”... Cabe ressaltar mediante a esta solicitação, da cor da pele de quem? O “bandi aid” era rosado, mais próximo do tom de pele do branco, mas de forma involuntária esta aceitação era tida como normal, pois na época não havia este curativo semelhante a cor do pele do negro, como hodiernamente existente.
b) os heróis constantes nas estórias em quadrinhos nos quais enriqueciam o imaginário infantil, não apresentavam o negro em destaque, sendo que o mais conhecido de todos apenas exercia papel coadjuvante, pois era respeitado pela grande estatura, massa muscular, fidelidade ao amo, mesmo que com o risco da própria vida. Este auxiliar herói era conhecido como Lothar, o ajudante do mágico Mandrake;
c) quando se aproximava de datas importantes como o dia da criança, natal e aniversário, era como os pais darem um boneco Falcon aos meninos e uma boneca de cor rosada com olhos azuis, longos cabelos lisos e loiros as meninas. Nos dias de hoje já se fabricam bonecas da cor da pele negra e com o cabelo mais próximo da realidade fática vivenciada;
d) Ao final dos “anos 70” iniciou-se a realização de um concurso no RS que ganhou grande destaque social, ou seja, a realização da escolha da “rainha das piscinas”, a qual de forma surpreendente, teve em uma de suas vencedoras o reconhecimento nas passarelas nacionais através da coroação do título de Miss Brasil, a até os dias de hoje querida por sua eterna beleza e sempre chamada de “Miss Deise Nunes”. A sua coroação foi importante, pois quebrou um paradigma da primeira miss negra do Brasil, inclusive, com repercussão nacional.
d) Já em meados dos “anos 80”, houve uma explosão de programas infantis, liderando pelo nascimento da ex-modelo gaúcha, que após sair das passarelas, posar nua, decidiu que passaria a investir no público infantil, destacando-se não mais pela exposição do corpo, mas pelos cabelos loiros, olhos azuis, bochecha vermelha, distinta do padrão brasileiro. Até os dias de hoje ainda se apresenta como rainha dos baixinhos – Xuxa Meneguell. Outras se apresentaram tentando copiá-la em todos os sentidos, como por exemplo, Angélica e Eliana, mas o certo é de que nenhuma obteria o destaque e reconhecimento se não tivesse o padrão de beleza européia, e, é claro, divergente do afro-nacional.
O negro consegue obter destaque em áreas como esporte, principalmente, quando envolver a força muscular, como boxe, atletismo, corrida, futebol, etc, entretanto, até nestas áreas, em situações atípicas, também há situações recentes de racismo com repercussão nacional e internacional, como por exemplo, em jogo disputado pela Copa Libertadores da América no ano de 2005, na ocasião em que o jogador Desábato do time pertencente à equipe do Quilmes da Argentina chamou o jogador Grafite da equipe do São Paulo de macaco, sendo naquela ocasião detido pela policia militar de São Paulo e conduzido à área judiciária daquela cidade com o objetivo de homologar a prisão em flagrante delito por crime de racismo.
No mesmo ano, em jogo realizado pela equipe do Juventude x Internacional na cidade de Caxias do Sul pelo Campeonato Gaúcho, outro fato semelhante ocorreu com o jogador Tinga da equipe da capital gaúcha, que toda vez que tocava na bola a torcida local emitia sons ao imitar grunhidos de macaco.
O jogador demonstrou tristeza com o fato, contudo, optou por não levar o caso ao conhecimento do poder judiciário, postulando apenas ao árbitro da partida que relatasse em súmula, com a finalidade de que as autoridades esportivas adotassem as medidas pertinentes.
Outros casos semelhantes ocorreram, mas o que fica de concreto nos fatos antes citados é de que há uma falência da moral em partes da sociedade, que precisam ser ressuscitadas pelo fortalecimento da educação dentro da família, da escola, das empresas públicas e privadas, buscando cessar esta coerção que emana de pequenos focos grupais, que tem como a finalidade a busca constante do negro como “bode expiatório” de suas fraquezas quando da convivência entre pessoas, e, posteriormente a prática de atos de selvageria na forma de tratamento, em muitas vezes advém um arrependimento, mesmo que tardio, compõe outro dado que para fins de estatística faz com que a sociedade relembre que não pode esquecer-se dos valores que deve tutelar nas relações interpessoais, principalmente, o respeito à “dignidade da pessoa humana”, que é tão importante que consta já no preâmbulo da Constituição Federal de 1988, a qual compõe o patrimônio pessoal e individual de cada ser humano desde o seu nascimento e em nenhum momento poderá deixar de ser resguardada e respeitada.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, origem ou religião. Para odiar, é preciso aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar"... Mandela
PAULO RICARDO ROSA DOS SANTOS
Bacharel em Direito – PUC/RS
Pós-Graduado em Seg. Pública – PUC/RS
Pós-Graduado em Direito Publico – IDC
Pós-Graduando em Gestão Pública Municipal - UFRGS
Pós-Graduado em Gestão em Seg. Pública e Dir. Humanos – EST
Extensão em Direito Tributário e Ciências Políticas – PUC/RS
Comunidade no orkut: “O DIREITO E VOCÊ”
http://twitter.com/Paulo_R_Santos
Site: www.pauloricardosantos.com.br
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